segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Trata-se de votar no PT ou no PSDB, e no projeto político que cada um deles tem para o nosso país

Por http://mariafro.com.br/wordpress/

Falando de política…

Por Leo Carrer do blog Antitelejornal
(…)
Ontem tivemos o primeiro turno das eleições, e como era mais ou menos previsto, deu 2° turno entre Dilma e Serra. Digo que era mais ou menos previsto pois, apesar da maioria das pesquisas apontar que Dilma ganharia no primeiro turno, desde os mais recentes debates eu já imaginava que isto não se concretizaria. O principal motivo pra isso se chama Marina Silva, que conquistou grande parte do eleitorado dos dois candidatos, sedentos por fugir desta polarização Dilma/Serra, sedentos por uma nova opção. Admiro muito Marina, acho que suas idéias sobre meio-ambiente fizeram a população refletir sobre vários pontos desta questão, hábitos e atitudes que temos que mudar se quisermos preservar nosso planeta e nossa espécie. Admiro sua preocupação e concordo plenamente em bater tanto na tecla ambiental, afinal de contas, nosso planeta está mudando e todos nós já estamos sentindo os impactos de tanta degradação ambiental. É uma questão de sobrevivência.

Por outro lado, várias questões e pontos de vista me preocupam em Marina Silva. Infelizmente sua opção religiosa (evangélica) limita sua visão sobre muitas questões sociais importantes, como a liberação do aborto em casos de estupro, a união civil entre homossexuais e as pesquisas com células-tronco, além de muitas outras questões das quais, influenciados por sua visão religiosa, os chamados “crentes” tem posições extremamente retrógradas e conservadoras. Imagino a posição que um evangélico teria, por exemplo, em relação às religiões de matriz-africanas, as quais grande parte do segmento evangélico persegue todos os dias, ou sobre a educação, como poderiam influenciar nos ensinos de história e biologia, obrigando professores a eliminar discussões sobre darwinismo, por exemplo, ou implantando um ensino religioso para “catequisar” nossas crianças desde pequenas. Só de imaginar tais possibilidades já é motivo suficiente para me desesperar ante a possibilidade de termos um presidente evangélico em nosso país.

Felizmente, parece que o estado laico se salvou dessa vez. Dilma e Serra, apesar de se dizerem católicos, não tem maiores ligações com a Igreja, nem deixaram qualquer brecha para pensarmos que se deixariam influenciar por sua religião na hora de tomar as decisões. Mais do que um embate entre dois candidatos, esta disputa é um embate entre dois partidos que já fizeram história em nosso país. Não se trata, portanto, de votar simplesmente na Dilma ou no Serra. Mas sim de votar no PSDB ou no PT, de escolher qual o modelo de governo queremos para os próximos oito anos. Fazendo um rápido retrocesso, sem recorrer a dados nem qualquer pesquisa, o que marcou a história desses dois governos?

O governo FHC foi marcado pela estabilização de nossa economia através do Plano Real, uma moeda forte e sólida, que acabou com a inflação e colocou nossa economia no rumo certo. Por outro lado, FHC ficou conhecido também por implantar à risca a cartilha neoliberal em nosso país. Pra quem nunca teve aula de teoria política, a teoria neoliberal é uma herdeira direta do liberalismo, teoria econômica que pregava a não intervenção do Estado na economia, ou seja, o governo deve deixar que as próprias leis de mercado regulem a economia. Além disto, a cartilha neoliberal tem uma série de outras recomendações, como privatizações em todas as áreas. e FHC seguiu à risca esta cartilha. Vendeu várias empresas que eram do governo, nas áreas de geração de energia e telefonia, entre outras. Na área da educação, FHC investiu pouco ou nada no ensino superior no Brasil, deixando as Universidades Federais num total descaso. Ao contrário, ele incentivou a abertura de faculdades particulares, que se multiplicaram, dificultando ainda mais o acesso à educação pelas familias de baixa renda. Na área social,movimentos sociais eram criminalizados, e não havia espaço para o debate com as minorias, como o movimento negro nem de mulheres por exemplo. FHC e o PSDB fizeram um governo voltado para as elites, deixando de lado as classes baixa e até mesmo a classe média, a mesma classe média que hoje faz campanha para o Serra.

No governo Lula, a estabilidade econômica foi mantida, ao contrário de todos os prognósticos terroristas que diziam que o PT iria dar calote na dívida externa e colocar a economia do Brasil no buraco. Lula não fez nada disto, pelo contrário, solidificou ainda mais nossa economia, gerando empregos (estima-se que foram quase 9 milhões de empregos gerados por Lula, contra pouco mais de 800 mil na era FHC), aumentando nosso PIB e a taxa de crescimento do país (de pouco mais de 2% na era FHC para uma média de 3,5% ao ano). As empresas estatais, ao contrário do que acontecia no governo FHC, foram valorizadas e tiveram crescimentos consideráveis. A Petrobrás por exemplo hoje é uma das maiores e mais sólidas empresas de nosso país, tanto é que ações da petrobrás hoje são um dos melhores investimentos do mercado. Na área educacional, os avanços foram notórios. O investimento na manutenção e reforma das universidades existentes e a construção de novas universidades e centros tecnológicos. Só em Goiás foram quase 10 novos campus do CEFET construídos, espalhados pelo estado, além da construção e reforma de novos prédios da UFG, novas e modernas salas de aulas, além de um imenso Centro de Eventos.

Leis importantes foram aprovadas, como a obrigatoriedade do ensino de história da Àfrica e do negro no Brasil, na tentativa de conscientizar desde cedo nossas crianças de nossa herança africana e da importância que teve e tem o povo negro em nossa história, numa tentativa de diminuir o racismo que é tão latente em nossa sociedade. A política de cotas em universidades é outra lei importante que pretende dar mais oportunidade para pessoas negras poderem cursar uma faculdade, visando melhorar as condições de vida dessa população, em sua maior parte integrantes das classes C e D, e que por conta do racismo cruel que vigora em nosso país, tem menos oportunidade de trabalho e de subir na vida do que uma pessoa branca nas mesmas condições. Isso demonstra que as minorias foram ouvidas e tem vez no governo do PT. Continuando no campo social, medidas sociais como o programa Fome Zero foram um dos grandes pilares do governo Lula. Lula implantou e fez funcionar o maior programa social jamais realizado por aqui, que é o bolsa-família, dando à população de baixa renda a oportunidade de sair da miséria, gerando renda e consumo, mesmo que baixos, a estas famílias (clique aqui para uma análise mais detalhada do programa Bolsa-Família). Enfim, Lula e o PT governou para o povo, para as classes baixas e médias, que hoje tem mais poder de compra do que tinham há oito anos atrás.

Portanto, cabe a nós escolher qual o modelo de governo queremos para o nosso país. Não se trata de votar no Serra ou na Dilma apenas. Trata-se de votar no PT ou no PSDB, e no projeto político que cada um deles tem para o nosso país, já deixados claro em seus respectivos governos.

MARINA TRANSGÊNICA


Algumas coisas se filtram do resultado das eleições presidenciais. O único a perder foi a maioria do povo brasileiro.

Serra continuou no mesmíssimo lugar de onde não saiu desde 2002. Teve seus pouco mais de 30% de votos, que é a massa liberal da nação. O PT teve seus trinta e tantos porcento que é a histórica massa de esquerda. O restante trinta e poucos porcento dança de acordo com a música. que lhe parece mais agradável no momento.

Dessa parcela mutante, uma coisa merece ser observada. Os vinte e poucos porcento de Marina que levaram Serra ao segundo turno, foram fruto de alienação intelectual e política dos eleitores.

Não há que se falar em contrário. Não foram poucas as vezes em que ouvi "eu não gosto da Dilma". Ao que eu perguntava, "por quê, ela te fez alguma coisa?". Não fez, claro. Não gostam de Dilma porque não gostavam de Lula antigamente. É o ódio não analítico, burro. Só mudou de endereço.

Mas também sabem que seria estupidez votar em Serra. Sabem porque muitos já eram adultos no tempo em que FHC comandava o Brasil e sentiram na pele o estrago que o tão sapiente sociólogo fez a todos nós (a nós, deixe-se claro. Ele não fez mal aos amigos). Votar em Serra seia trazer tudo aquilo de volta.

Sendo assim, esse eleitor "intelectualizado", chique, discursa longamente sobre os motivos pelos quais votará em Marina. Esse cidadão vai aos restaurantes medianos e gasta seus cobres em um vinho que ele realmente não conhece, mas reputa como bom em razão de seu preço moderado (ele não poderia pagar um realmente caro, e se pudesse, seria um daqueles que orgulhosamente já teria declarado seu voto em Serra e na direita). Esse eleitor "privilegiado" foi sumariamente enganado primeiro por Serra, depois pela imprensa e por último, pela própria Marina.

Marina tinha o direito de disputar a Presidência. Não há o que dizer a respeito. Serra sabia desde o início que teria que inflá-la, como inflaram Heloisa Helena em 2006 para levar a disputa pro segundo tempo. Serra em seu íntimo, sempre soube do seu teto de votos. Seria preciso algo artificial. E a imprensa, aliada tucana de todas as horas, de propósito fazia que não via as irregularidades da campanha da "verde" e a tratava como uma alternativa a "tudo o que está aí". E olha que o Plínio avisou.

Mas os bastidores da campanha verde são bem mais sórdidos do que o eleitor comum pode supor. E nem vamos entrar no mérito de quem pagava suas zilionárias despesas, nem de quem era o avião de 50 milhões de verdinhas que ela usou pra cima e para baixo. Vamos apenas conjecturar sobre de onde vinham seus apoios políticos. Quem estava com Marina? Jesus Cristo e um monte de abnegados franciscanos que apenas se interessam em salvar o planeta ou pessoas similares àquelas que compreendem a base de apoio do PT e do PSDB?

Os incautos eleitores de Marina tinham noção de que iriam levar Serra e somente Serra para o segundo turno? E para quê, para ter agora que declarar seu voto nulo ou em Dilma?

Sim, muitos eleitores sabiam disso. Mesmo assim, insistiram. Insistiram para ter que ler nos jornais hoje e durante toda a semana que Serra vai comprar o apoio do partido de Marina. O mesmo PV que na verdade desde sempre aluga seu apoio a legendas de direita endinheiradas. Basta ver como sempre votou a bancada "verde" no Congresso e nas Assembléias Estaduais. De esquerda, os verdes não têm nem a raiz.

O PV é um partido de aluguel. Marina sabia disso quando saiu do PT e foi pra lá. Se ela tivesse fundado uma nova legenda como fez HH criando o PSOL, seria até mais aceitável. Mas Marina não tinha cacife político pra isso e além do mais, a lei de fidelidade partidária já estava valendo. Em outras palavras, não encontraria ninguém disposto a largar o mandato ou ter que sair da disputa de ontem, simplesmente para criar uma agremiação de "notáveis". Marina por algum motivo do além, caiu e se embriagou no canto da sereia. Coisa que qualquer analista sério já tinha detectado lá atrás. Mas ela prosseguiu captando votos que iriam beneficiar a mesma direita que ela tanto condena.

Será que condena apenas da boca pra fora? O tempo dirá.

E se em política "tudo é a mesma coisa", porque então sair atirando? Ora, se Marina sabia que iria para um pequeno covil de lobos, que além de tudo, era inexpressivo, porque não foi mais para a esquerda? Porque não ficou no PT e tentou se firmar mais ainda na legenda ganhando apoios internos?

Porque no mínimo, Marina é hipócrita. Igual foi hipócrita boa parte de seus eleitores. Agora, o que encontramos? Novamente uma disputa onde a direita suja usará fartamente seu arsenal de falsidades para tentar desqualificar o trabalho do Governo. Capas da Veja falando de uma corrupção, senão inverídica, pelo menos idêntica à da tucanolândia, e editoriais proferidos por jornalistas enojados e subservientes. Corremos o risco concreto de ter que regredir a economia em 10 anos se por ventura Serra ganhar as eleições.

Marina sabia disso, mas não deu bola. Seu eleitor foi vítima ele sim, de um estelionato eleitoral. Votou naquilo que não existia. Se votasse em Dilma ou mesmo em Serra, saberia o produto que estava exposto na prateleira. Votando em Marina, achou que levava alguém sério mas em verdade, estava comprando somente mais um produto trangênico em embalagem bonita.

Exatamente o contrário que a ex-seringueira dizia ser.

Como já dito em algum lugar na blogsfera, foi a segunda morte de Chico Mendes.


domingo, 3 de outubro de 2010

Vamo que vamo!

Por http://blogdoonipresente.blogspot.com/

Vamos para o segundo turno com a mesma disposição de sempre

Bem gente, não foi dessa vez. O Primeiro tempo vencemos com muita luta. Não vamos deixar nos abater por esse pequeno detalhe, um capricho: a vitória no primeiro turno. Nem Lula, o maior Presidente que esse País já teve, foi capaz de tamanha façanha. Por outro lado FHC venceu no primeiro turno e o resultado foi o que assistimos. A luta não acabou. Em 2006 também ficamos tensos e no final deu certo. Por que não haveria de dar agora?

Lembra-se que ainda podemos aplicar sobre o total de votos da Marina32.000.000 de votos, o mesmo percentual apontado pelas pesquisas no primeiro turno e o resultado real: 46% para Dilma e 32% para Serra. O percentual final de Dilma é NOSSO É NINGUÉM TIRA!

Como disse o Brizola Neto em http://www2.tijolaco.com/:

Se temos mais um passo a dar, que ele nos leve mais longe

Não faz bem a nossa luta nos auto-iludirmos ou, como se diz popularmente, “tapar o sol com a peneira”. O resultado das urnas ficou muito aquém do que todos esperávamos. Como e por que isso aconteceu, em parte, sabemos.

A ofensiva da mídia, nos últimos 20 dias, explorando ou fabricando “escândalos” sobre “escândalos”, a utilização indecorosa da fé e da religiosidade da população espalhando inverdades e desumanidades sobre Dilma Rousseff em milhares de púlpitos e, finalmente, a utilização das pesquisas e da propaganda para, a partir da insegurança gerada pelos fatores que mencionei, inflarem a candidatura Marina Silva.

De outro lado, o peso do poder econômico na reta final de campanha também contribuiu para nos tirar, a todos, aquela fatia dos indecisos, que escolhe o candidato à última hora.(...)

Abre-se, diante de nós, um momento de reflexão. Não é hora de recriminações e, menos ainda, de empurrarmos as culpas uns sobre os outros, se a nossa causa é grandiosa, grande também deve ser a nossa capacidade de superação e de compreender que o nosso desafio, no segundo turno, é tornar claro aquilo que já era claro para nós.

É preciso que todo brasileiro entenda que estamos diante da decisão entre fazer o Brasil seguir mudando ou retrocedermos ao Brasil do atraso, da estagnação, da fome, da crescente marginalização de milhões de pessoas. Ao Brasil submisso, ao Brasil humilhado, ao Brasil ajoelhado diante de interesses poderosos daqui e de fora.

Em 2006, quando Lula terminou o primeiro turno com 48,6 % dos votos válidos foi o segundo turno que conseguiu esclarecer o povo brasileiro de que aquela eleição se tratava de uma decisão entre adotar uma política nacionalista ou regressarmos ao período vergonhoso de privatização e de alienação de nossas riquezas que representou o governo tucano de FHC. Pois, agora, trata-se do mesmo desafio, só que ainda mais ampliado.

O destino, com o pré-sal, nos fez um país ainda mais rico, justamente na mesma época em que descobrimos que riqueza é algo que jamais pode andar separada da justiça social.

Eles retardaram a nossa marcha. Obrigaram-nos a mais um passo. Pois, que seja. Reunamos forças para que este passo a mais seja capaz de nos levar ainda mais longe.

Vamo que vamo!

sábado, 2 de outubro de 2010

Machado de Assis votaria em Dilma.


Enéas de Souza: por que Machado de Assis votaria em Dilma

Ora, Machado era um conservador, portanto não poderia votar em Dilma Rousseff. Mas, Machado tinha o senso da observação e da construção dos romances e dos personagens, da narrativa na História. Numa época como a de hoje, com o seu ceticismo – e não cinismo –, ele duvidaria que o PT fosse fazer um bom governo. Mas, seu ceticismo era um método para não se entusiasmar com resultados humanos.

Por Enéas de Souza, no Econobrasil

Do homem, ele tinha uma certa dúvida; achava que o que os movia era o interesse. (Brizola diria os interesses). Bom cara, este. Achava que os homens não eram confiáveis. Machado, todavia, tinha uma grande virtude; se poderia dizer que tinha uma grande aposta.

Quando pensava na Independência do Brasil, descortinava-se nele um grande júbilo. E pensava certo: se a Independência do Brasil fosse a origem de uma nação vigorosa, essa nação deveria ter uma literatura de primeiro nível, capaz de se medir com as literaturas dos países formidáveis do velho mundo. O lado colonizado era querer ser igual à Europa; o lado revolucionário era querer ter uma literatura que pudesse se bater com a dos europeus.

Pois o Machado de Capitu pensou certo. E se pôs, como um gato serpenteante, a escrever, com a sua língua plástica e simples, sobre a fisionomia do Brasil. O Brasil já tinha Joaquim Manuel de Macedo e sua A Moreninha; Manuel Antonio de Almeida trazendo Memórias de um Sargento de Milícias e José Martiniano de Alencar, a prosa mais caudalosa do Brasil. As cores brasileiras escrevendo as letras verde-amarelas. Mas, por mais que fossem gigantes, os três não tinham feito uma literatura capaz de se medir com a literatura portuguesa ou mesmo a literatura francesa ou inglesa.

Enfim, José de Alencar tinha uma linguagem como as matas nacionais, luxuriantes, verdes, altivas, indianista, genuinamente vegetal, cheio de fauna, mas também trabalhando a realidade urbana da época. Seus personagens tinham muito de europeus. Quem não leu O Guarani? (Meu pai me obrigou a ler numas férias. E para se certificar que lia, tomava o capítulo após a inesquecível e aborrecida hora de leitura). Nossa imaginação romântica viajava com Ceci e Perí.

Daí veio Machado. Primeira coisa que fez, sobretudo depois de sua doença, que o levou a voltar indisfarçavelmente maduro e mais cético ainda, foi escrever… Que é que ele escreveu mesmo? Memórias Póstumas de Brás Cubas. Corra para ler e reler; este é um livro revolucionário, audacioso, fantástico, brilhante, corajoso, pleno de ironia, zombando de alguns PSDBs da época. O próprio Brás Cubas, o seu cunhado Cotrim, Lobo Neves, Virgília, Quincas Borba, o filósofo; etc.

E se a gente vai lendo o romance, a gente percebe que o autor terça armas com os grandes escritores do mundo: Pascal, Goethe, Voltaire, e desaba a sua história num mundo onde quem comanda é Pandora, que traz sempre uma sacola de bondade e de maldades ( sendo a esperança a pior delas). O gesto de Machado é medir-se com Cervantes, com Dante, com Shakespeare, ele, um pobre do Brasil, um coitado. Mas foi o primeiro que botou para longe o “complexo de vira-lata”, que Nelson Rodrigues inventou décadas mais tarde para definir a condição do Brasil e dos brasileiros.

Então falei até agora, meio como um errante, sobre várias coisas de Machado. E o que é que isto tem a ver com a Dilma? É que a Dilma está impregnada desta loucura do Machado, a audácia. Ou seja, é preciso criar este país que a Independência deixou lá na História. Um país que, na verdade, se a gente lê o Novais, o Fernando, a gente percebe que Portugal é que estava ficando apêndice do Brasil e não o contrário.

O Brasil foi abortado por uma Independência que se alçou a ser império, vide José Bonifácio de Andrade e Silva, mas que continuou escravocrata, que deixou-se estar como um país secundário. O contrário do que queria Machado. E o contrário do que fez Machado.

Sim, porque Machado foi um gênio, um cara que estava muito adiante de sua época. Veja o que se disse dele Carlos Fuentes: “50 anos antes de Borges, Machado abriu o caminho para ele”. Ou Salmon Rushdie: “Borges é o escritor que tornou possível García Márquez; então, não é exagero dizer que Machado de Assis é o escritor que tornou Borges possível.”

O que interessa. Machado estava querendo um Brasil independente, capaz de encarar os grandes. Fez isso na Literatura. Pois, o Lula, depois de Vargas, Juscelino, entrou nesta vereda, neste sertão, neste encontro marcado. Lula mudou a cara do Brasil, com todos os problemas que o seu governo teve no primeiro mandato. O segundo, se não foi céu de brigadeiro, foi audácia. Inclusive na crise.

E Dilma e Celso Amorim, foram as duas naus que fizeram o Brasil avançar. De um lado, uma política externa excepcional e, noutro, uma sustentação econômica com uma estratégia econômica robusta. E Dilma pretende continuar a obra de Lula, o que significa “navegar é preciso” neste caminho da construção de um país integrado na economia mundial, com distribuição de renda, com ampliação dos benefícios à população, etc.

Aí é que está. Machado era conservador em face das disputas políticas estabelecidas no Brasil Império. Veja o leitor o que ele pensa ficcionalmente, dessa realidade, em Esaú e Jacó, onde dois irmãos políticos acabam por matar Flora, símbolo da política brasileira.

Hoje, ele veria que o trapézio da política se mexeu e caminhou para a construção de uma nação integrada medianamente no sistema geopolítico e geoeconômico do mundo. Deixou de ser uma nação onde o ministro das Relações Exteriores tira o sapato sob a ordem de um guarda americano, para ser uma nação que atua fortemente na América do Sul, na articulação de vários fóruns e diversas relações nas múltiplas regiões, na questão do Irã, etc.

Ou seja, há um projeto de Brasil que Lula construiu e está legando, dentro da sua ação política, para que Dilma continue. Um projeto de uma nação independente que, dentro de sua limitação econômica, política e cultural, pretende participar nas decisões do que acontece nos rebuliços do planeta.

Bem, pois acho que, apesar de conservador, irônico, com insuspeito pendor cético, Machado, se fosse votar hoje numa seção eleitoral, mesmo um pouco desacostumado com a máquina de votar, cravaria na urna eletrônica o nome de Dilma Rousseff. Lula e Dilma estão fazendo o projeto que Machado esperou que a Independência do Brasil trouxesse.

Machado votaria, votará, no domingo, com sua barba bem aparada, com os seus óculos de pincenez (a turma perguntando: quem é esse cara?), na candidata que participa de um projeto de Brasil. A mão de Machado porá na urna o voto que dará a Dilma a possibilidade de dar continuidade e destino à trajetória daquele trem que partiu da estação da Independência.

(Ao menos, é o que os brasileiros desejam!)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Calma, coragem e combate!


Meus queridos amigos. Vocês, que acompanham os fatos sabem que os adversários do povo brasileiro não têm condições de travar o debate sobre a realidade. Não têm argumentos, porque o Brasil agora cresce, enquanto eles o estagnaram, porque o Brasil agora emprega, enquanto eles deixaram milhões de pessoas na angústia de não ter seu ganha-pão, o Brasil agora aumenta os salários e o consumo, enquanto eles passaram décadas mandando o povo brasileiro apertar os cintos.

No Brasil de verdade, na realidade, eles estão sem armas e sem argumentos. Sua causa é ruim, é pavorosa, é repugnante quando surge com o seu próprio rosto disforme.

Mas eles controlam o Brasil imaginário, porque controlam a mídia. E é essa a arma monstruosa que, desde o início do processo eleitoral, brandem contra os sentimentos verdadeiros do povo brasileiro.

Há seis meses, chamavam Dilma de “poste”, de alguém sem idéias, sem personalidade, sem discurso, sem capacidade sequer de se expressar.

Esta fantasia mentirosa ocupou páginas e colunas de jornais, repetida como um mantra.

Os fatos, mais que a dissiparem, reduziram-na a pó.

Há três meses, eles sustentavam uma liderança de Serra que todos sabíamos falsa. Mas a publicavam em gráficos coloridos, a repetiam na televisão, a comentavam como fosse real.

Outra quimera que se desfez quando o sentimento e a voz do povo passaram a ser ouvidos.

Agora, seguindo um roteiro previamente estabelecido, construíram duas histórias: a de “escândalos” e a de ameaças à democracia. E, com elas, passaram usar, como sempre usam, as pesquisas que controlam. Há dias, “constróem” uma aproximação na reta final e a sua “obra” se expressa nos gráficos de pesquisas, o Datafolha à frente delas.

Mas eles não têm uma causa, uma bandeira, um projeto que possam submeter ao julgamento do povo brasileiro. Seu candidato é um personagem que desperta asco nna nossa gente.

Daí erguerem o nome de Marina Silva como biombo de seus verdadeiros interesses.

É irrelevante sabermos com qual nível de conveniência ela se presta a ele e, sequer, se ela o faz com cumplicidade.

Não importa qual o resultado deste julgamento moral.

O que importa é o mundo real, e é o mundo real a nossa arma contra a avalanche de propaganda que já despejam e despejarão nestes dias, sobretudo com as pesquisas a lhes servirem de disfarces dos seus apetites.

Temos de ter calma, lucidez, coragem, objetividade e disposição para o combate.

O primeiro é saber é que eles não lutam pela vitória, mas por uma sobrevida, por um segundo turno que lhes dê condição de fugirem da verdade acachapante de que a direita tornou-se uma força desprezada pela população. Lutam por mais 30 dias em que possam cevar um “milagre” demoníaco que oculte esta verdade.

Nem mesmo eles ousam estar seguros de que o conseguirão.

Mas sabê-lo não basta, é preciso dizê-lo, dizê-lo a quantos possam nos ouvir e ler.

Temos de ser claros e diretos: se é legítimo votar em Marina Silva, também é legítimo dizer a quem o faz que este voto, mais do que a ela, serve agora à direita e a José Serra.

Esta é a verdade nua e crua e, se ela me custar algum voto em minha candidatura a deputado, paciência.

Verdades são para ser ditas, custe o que custar, do contrário serei mais um hipócrita, e de hipócritas o povo brasileiro já se encheu.

Digo claramente o que deve ser dito e é preciso que cada um de nós o faça. A quem estiver caindo no “conto da onda verde”, a quem estiver vacilando por causa da mídia e das pesquisas, a pergunta deve ser esta, e feita de forma direta:

- Então, você vai votar no Serra?

- Vou votar na Marina.

- Não, você está enganado, você vai votar no Serra.

Este é o argumento com a força cortante da verdade. E o choque, talvez, desperte a compreensão deste interlocutor ingênuo, que não percebeu o jogo sujo que se oculta por detrás de um personagem que, pela sua origem e trajetória, pode despertar solidariedade e respeito, mas que, agora, passou a ser, para a direita, a tábua de salvação, provisória que seja, do seu naufrágio.

É hora de cada um de nós – a começar por aquele que tem a empatia de enormes massas do povo brasileiro – conversarmos com cada pessoa, com cada amigo, conhecido, vizinho ou parente.

Nós fazemos parte de um milagre chamado comunicação. Nós somos, aqui, dezenas de milhares e éramos centenas faz pouco tempo. Crescemos e nos unimos com a verdade e o amor ao povo brasileiro e a esta nação.

Acreditem, meus irmãos e minhas irmãs, nesta bandeira limpa, pura, decente e humana que conduzimos. Ela merece a força de nossos braços, o desapego de nossas idéias. Merece toda a nossa energia nesta batalha que quase se finda.

Cada voz, cada mente, cada coração, agora, deve ser posto a serviço do povo brasileiro. Pois a nossa sinceridade é tanta, o nosso amor ao Brasil é tanto, a nossa fé no futuro é tanta que não há mentira capaz de superar a emoção com que podemos nos expresar.

Vamos em frente, em nome do nosso povo. Vamos em frente, e vamos vencer.



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Por que a Dilma ganhou o debate da Record?



O compacto do link mostra como foi a participação de Dilma no Debate. Reparem no quanto tem de conteúdo. Nenhum outro candidato chegou perto dela neste quesito.


Tente fazer um compacto com os “melhores momentos” do Serra. Dali não sai nada, ou é ele atacando os adversários ou contrariado com perguntas sobre FHC e sobre apagões na educação e outras áreas de seu governo em São Paulo.


De Marina também não se consegue extrair um compacto com conteúdo. Se espremer fica só a pregação genérica do desenvolvimento sustentável, permeada com críticas udenistas que não correspondem aos fatos, sem conseguir dizer a que veio.


A verdade é que o discurso de Marina desperta desconfiança em todos que votam consciente, porque ela fica em cima do muro, como quando foi perguntada sobre Belo Monte.


Desperta desconfiança quando ela “importa” para o pré-sal os problemas ambientais do golfo do México, causado lá por políticas neoliberais de deixar empresas privadas fazerem tudo por dinheiro. Lá nem foi vazamento em profundidades do pré-sal, e sim em profundidade que a Petrobras já explora há anos, sem qualquer problema.


Desperta desconfiança também quando age de forma oportunista, com o discurso udenista, quando todos sabem que o PV é uma frente partidária com muitos candidatos fisiológicos, aparelhados em prefeituras do DEMos, com Kassab (e já foram aliados de Cesar Maia no Rio quando o DEMo estava no poder), em governos tucanos de São Paulo. Que moral ela tem para criticar o PT, sendo filiada ao PV? E ela sabe como ex-ministra do meio-ambiente que qualquer órgão público ou privado está sujeito a um ou outro mau funcionário desviar sua conduta, e só será descoberto, ou quando uma fraude aparece, ou quando é denunciado antes da fraude aparecer.


Quanto a Marina, fica sempre aquela pergunta: qual é exatamente a posição dela? A gente vai conviver com apagões energéticos por ficar discutindo por décadas um projeto de hidrelétrica? O respeito ao meio-ambiente é fundamental. Ninguém abre mão da boa engenharia que respeita o meio-ambiente neste século XXI, mas quem é responsável por licenças ambientais precisa também aprender a respeitar a ecologia humana, e se empenhar para trabalhar na velocidade que a população pobre do Brasil precisa para sair da pobreza. Que exija as adequações necessárias, mas que não obstrua eternamente.


O discurso da Marina passa a impressão de que a senzala tem que esperar na fila para entrar na classe média, enquanto não se resolve o problema do lixo e da poluição produzidos na casa grande (sobretudo dos países ricos).


Plínio também não rende um bom compacto do debate. Independente de concordar ou não com as idéias dele, não foram passadas com a clareza com que usou no primeiro debate. Plínio conseguiu atacar as políticas dos outros 3 candidatos (e é papel de quem é oposição), mas saiu com a imagem de quem irá desmontar um monte de coisas boas que estão dando certo, como o ProUni, o Reuni, a política de aumento real garantido do salário mínimo; para colocar no lugar algo inatingível a curto prazo: uma suposta política perfeita para um futuro que sabe-se lá quando iria chegar. Por fim, foi desonesto ao sucumbir ao discurso udenista e falso, para exploração eleitoral.


Quando não há um “nocaute” durante o debate, vence quem consegue encaixar mensagens com melhor repercussão nos dias seguintes, e que fixam na cabeça do eleitor.


Ninguém venceu por nocaute (e seria difícil com as regras rígidas, a menos que alguém cometesse algum grande deslize). Mas para o cidadão que se preocupa com emprego, o mais importante foi ouvir Dilma falar dos 14,5 milhões de empregos. Para o estudante que está no ProUni ou quer entrar na universidade, o importante foi ouvir Dilma defendendo o programa. Para quem tem más lembranças do governo FHC, importante foi ver Serra se atrapalhar para defendê-lo. Para quem tem boas lembranças do governo Lula, importante foi ver Dilma defendendo este governo do ataque dos outros.


Por isso que reitero: Dilma conquistou mais votos do eleitor consciente que viu o debate, porque conversou com o eleitor sobre os problemas dele. Dilma fez um discurso politizado para a nova classe média que emergiu no governo Lula.

domingo, 26 de setembro de 2010

Jornal inglês diz que Dilma é "uma líder extraordinária"




O jornal The Independent destacou neste domingo que o Brasil se prepara para eleger no próximo final de semana a "mulher mais poderosa do mundo" e "uma líder extraordinária".As pesquisas mostram que ela construiu uma posição inexpugnável – de mais de 50%, comparado com menos de 30% - sobre o seu rival mais próximo homem enfadonho de centro chamado José Serra. Jornal também afirma que candidata tem sofrido ataques em uma campanha impiedosa de degradação patrocinada pela mídia brasileira.
A mulher mais poderosa do mundo começará a andar com as próprias pernas no próximo fim de semana. Forte e vigorosa aos 63 anos, essa ex-líder da resistência a uma ditadura militar (que a torturou) se prepara para conquistar o seu lugar como Presidente do Brasil.

Como chefe de estado, a Presidente Dilma Rousseff irá se tornar mais poderosa que a Chanceler da Alemanha, Angela Merkel e que a Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton: seu país enorme de 200 milhões de pessoas está comemorando seu novo tesouro petrolífero. A taxa de crescimento do Brasil, rivalizando com a China, é algo que a Europa e Washington podem apenas invejar.

Sua ampla vitória prevista para a próxima eleição presidencial será comemorada com encantamento por milhões. Marca a demolição final do “estado de segurança nacional”, um arranjo que os governos conservadores, nos EUA e na Europa uma vez tomaram como seu melhor artifício para limitar a democracia e a reforma. Ele sustenta um status quo corrompido que mantém a imensa maioria na pobreza na América Latina, enquanto favorece seus amigos ricos.

A senhora Rousseff, a filha de um imigrante búlgaro no Brasil e de sua esposa, professora primária, foi beneficiada por ser, de fato, a primeira ministra do imensamente popular Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ex-líder sindical. Mas com uma história de determinação e sucesso (que inclui ter se curado de um câncer linfático), essa companheira, mãe e avó será mulher por si mesma. As pesquisas mostram que ela construiu uma posição inexpugnável – de mais de 50%, comparado com menos de 30% - sobre o seu rival mais próximo homem enfadonho de centro chamado José Serra. Há pouca dúvida de que ela estará instalada no Palácio Presidencial Alvorada de Brasília, em janeiro.

Assim como o Presidente Jose Mujica do Uruguai, vizinho do Brasil, a senhora Rousseff não se constrange com um passado numa guerrilha urbana, que incluiu o combate a generais e um tempo na cadeia como prisioneira política. Quando menina, na provinciana cidade de Belo Horizonte, ela diz que sonhava respectivamente em se tornar bailarina, bombeira e uma artista de trapézio. As freiras de sua escola levavam suas turmas para as áreas pobres para mostrá-las a grande desigualdade entre a minoria de classe média e a vasta maioria de pobres. Ela lembra que quando um menino pobre de olhos tristes chegou à porta da casa de sua família ela rasgou uma nota de dinheiro pela metade e dividiu com ele, sem saber que metade de uma nota não tinha valor.

Seu pai, Pedro, morreu quando ela tinha 14 anos, mas a essas alturas ele já tinha apresentado a Dilma os romances de Zola e Dostoiévski. Depois disso, ela e seus irmãos tiveram de batalhar duro com sua mãe para alcançar seus objetivos. Aos 16 anos ela estava na POLOP (Política Operária), um grupo organizado por fora do tradicional Partido Comunista Brasileiro que buscava trazer o socialismo para quem pouco sabia a seu respeito.

Os generais tomaram o poder em 1964 e instauraram um reino de terror para defender o que chamaram “segurança nacional”. Ela se juntou aos grupos radicais secretos que não viam nada de errado em pegar em armas para combater um regime militar ilegítimo. Além de agradarem aos ricos e esmagar sindicatos e classes baixas, os generais censuraram a imprensa, proibindo editores de deixarem espaços vazios nos jornais para mostrar onde as notícias tinham sido suprimidas.

A senhora Rousseff terminou na clandestina VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Nos anos 60 e 70, os membros dessas organizações sequestravam diplomatas estrangeiros para resgatar prisioneiros: um embaixador dos EUA foi trocado por uma dúzia de prisioneiros políticos; um embaixador alemão foi trocado por 40 militantes; um representante suíço, trocado por 70. Eles também balearam torturadores especialistas estrangeiros enviados para treinar os esquadrões da morte dos generais. Embora diga que nunca usou armas, ela chegou a ser capturada e torturada pela polícia secreta na equivalente brasileira de Abu Ghraib, o presídio Tiradentes, em São Paulo. Ela recebeu uma sentença de 25 meses por “subversão” e foi libertada depois de três anos. Hoje ela confessa abertamente ter “querido mudar o mundo”.

Em 1973 ela se mudou para o próspero estado do sul, o Rio Grande do Sul, onde seu segundo marido, um advogado, estava terminando de cumprir sua pena como prisioneiro político (seu primeiro casamento com um jovem militante de esquerda, Claudio Galeno, não sobreviveu às tensões de duas pessoas na correria, em cidades diferentes). Ela voltou à universidade, começou a trabalhar para o governo do estado em 1975, e teve uma filha, Paula.

Em 1986 ela foi nomeada secretária de finanças da cidade de Porto Alegre, a capital do estado, onde seus talentos políticos começaram a florescer. Os anos 1990 foram anos de bons ventos para ela. Em 1993 ela foi nomeada secretária de minas e energia do estado, e impulsionou amplamente o aumento da produção de energia, assegurando que o estado enfrentasse o racionamento de energia de que o resto do país padeceu.

Ela tinha mil quilômetros de novas linhas de energia elétrica, novas barragens e estações de energia térmica construídas, enquanto persuadia os cidadãos a desligarem as luzes sempre que pudessem. Sua estrela política começou a brilhar muito. Mas em 1994, depois de 24 anos juntos, ela se separou do Senhor Araújo, aparentemente de maneira amigável. Ao mesmo tempo ela se voltou à vida acadêmica e política, mas sua tentativa de concluir o doutorado em ciências sociais fracassou em 1998.

Em 2000 ela adquiriu seu lote com Lula e seu Partido dos Trabalhadores, que se volta sucessivamente para a combinação de crescimento econômico com o ataque à pobreza. Os dois se deram bem imediatamente e ela se tornou sua primeira ministra de energia em 2003. Dois anos depois ele a tornou chefe da casa civil e desde então passou a apostar nela para a sua sucessão. Ela estava ao lado de Lula quando o Brasil encontrou uma vasta camada de petróleo, ajudando o líder que muitos da mídia européia e estadunidense denunciaram uma década atrás como um militante da extrema esquerda a retirar 24 milhões de brasileiros da pobreza. Lula estava com ela em abril do ano passado quando ela foi diagnosticada com um câncer linfático, uma condição declarada sob controle há um ano. Denúncias recentes de irregularidades financeiras entre membros de sua equipe quando estava no governo não parecem ter abalado a popularidade dela.

A Senhora Rousseff provavelmente convidará o Presidente Mujica do Uruguai para sua posse no Ano Novo. O Presidente Evo Morales, da Bolívia, o Presidente Hugo Chávez, da Venezuela e o Presidente Lugo, do Paraguai – outros líderes bem sucedidos da América do Sul que, como ela, têm sofrido ataques de campanhas impiedosas de degradação na mídia ocidental – certamente também estarão lá. Será uma celebração da decência política – e do feminismo.

Tradução: Katarina Peixoto

sábado, 25 de setembro de 2010

Leonardo Boff encara a batalha da mídia


Por sugestão de meu amigo Florestan Fernandes Jr, reproduzo artigo de Leonardo Boff, sobre o tiroteio promovido pela velha mídia nessa reta final de eleição.

Boff é apoiador de primeira hora de Marina Silva. Nem por isso, deixa de indignar-se com o papel cumprido pela velha mídia brasileira.

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A MÍDIA COMERCIAL EM GUERRA CONTRA LULA E DILMA

por Leonardo Boff

Sou profundamente a favor da liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso”pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais” onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida, me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e xulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido à mais alta autoridade do pais, ao Presidente Lula. Nele vêem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e nãocontemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles tem pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidene de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e de “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palavra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.

Outro conceito innovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, o fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes.

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.
*teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.

Haverá uma última bala de prata?



As campanhas eleitorais em todos os níveis estão a (praticamente) uma semana daquele momento único da democracia em que o povo dá o seu veredicto final sobre tudo o que foi dito pelos protagonistas da disputa política – sobre si e sobre os adversários. E, claro, do que disse a imprensa sobre esses contendores.

Apesar de ser praticamente impossível encontrar um eleitor de Dilma, de Serra, de Marina ou de algum candidato nanico – ou até de ninguém – que tenha a mínima dúvida de que a revista Veja, a Folha de São Paulo, a Globo ou até o Estado de São Paulo lançarão um último “escândalo” contra Dilma no undécimo momento da campanha eleitoral, tenho lá minhas dúvidas de que isso ocorrerá.

Mesmo que nos últimos sete anos e tanto a mídia de direita e o grupo político comandado por Serra e pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tenham se recusado a entender que através de acusações ao PT não induzirão o voto no PSDB ao ponto de levá-lo de volta ao poder, não acredito que essa grande mídia seja totalmente estúpida, como pensam muitos.

Já escrevi aqui que “Eles não rasgam dinheiro”, ou seja, que não são loucos ou idiotas completos. Pelo contrário: contam com cabeças bem mais frias do que as suas para analisarem estratégias políticas sob prismas bem mais racionais do que os usados pelos Otavinhos da imprensa golpista.

Como todos sabem, sempre mantive – e sempre manterei – interlocução com expoentes dessa “grande” imprensa que se interessem por dialogar comigo. Bem sei, portanto, a razão pela qual essa gente não desiste da estratégia de escandalizar o nada. Acham que, se não fizessem isso, seria “pior”, pois Lula teria hoje 100% de aprovação, por mais que seja uma hipótese descabida.

Desta maneira, direi a vocês uma conclusão à qual acredito que os aparatos oficial e extra-oficial de comunicação de Serra estão chegando. Seguramente, ele está sendo alertado pelos especialistas de que sua estratégia de acusar a adversária através desse seu aparato midiático foi um rotundo fracasso.

Após cerca de um mês e meio de artilharia pesada contra Dilma, de condenações peremptórias dela, do PT e do presidente Lula por grandes meios de comunicação que, concomitantemente, fizeram de tudo para transformar o belicoso Serra em vítima, a montanha pariu um rato.

Todas as pesquisas de opinião mostram o que digo. Apesar de a mídia ter abolido o princípio da margem de erro nas pesquisas, dando manchetes que dizem que Dilma teria perdido pontos sobre a soma dos adversários sem considerar que tudo se dá no âmbito da imprecisão estatística provável, foi isso o que aconteceu.

Trocando em miúdos: como as tais diminuições de vantagem de Dilma captadas pelos indefectíveis Datafolha e Ibope ficaram dentro da margem de erro estatística, é possível dizer tanto que houve essa diminuição quanto que não houve qualquer diminuição das intenções de voto da candidata do PT .

Com efeito, o noticiário vem tentando induzir a sensação de que finalmente Dilma teria sentido o golpe do bombardeio tucano-midiático mesmo que tudo não passe de especulação baseada em pesquisas que são desmentidas pelo instituto que mais tem acertado, o Vox Populi, que não detectou perda de vantagem da petista nem dentro da margem de erro.

Não foi por outra razão que o polêmico diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, deu recente declaração de que o eleitorado está tendo a “impressão” de que as acusações tucano-midiáticas contra Dilma não passam de “jogo eleitoral”.

Desta maneira, penso que o uso da surrada tática de fazer alguma acusação pesada contra Dilma quando não houver mais tempo para ela se defender na tevê e no rádio será repensada pelo candidato tucano e pelos seus Otavinhos.

Lembremo-nos, neste ponto, da teoria que embasou o prolongamento do bombardeio midiático da mídia contra Dilma, a teoria da pedra no lago, segundo a qual as denúncias levariam algum tempo para se propagar do centro “esclarecido” da opinião pública para as suas margens ignaras. Por essa teoria, deixar o ataque para a última hora seria ineficaz.

Ocorre que essa teoria foi desmoralizada (de novo), nesta campanha eleitoral. As ondas no lago, que propagariam as denúncias tucano-midiáticas, não passaram de marolinhas. O fato é que, com uma comunicação veloz como a de hoje, há dezenas e dezenas de milhões de pessoas que tomariam conhecimento, rapidamente, de qualquer acusação.

A reação indiferente do eleitorado a uma das maiores campanhas difamatórias que já se viu durante um processo eleitoral se deveu a provas que inexistiram. É justamente o setor mais informado da sociedade que logo se deu conta de que essa campanha tinha objetivos eleitoreiros exatamente como nas eleições passadas.

Foram acusações grosseiras, produto de uma crença inexplicável dos autores em uma burrice popular que este blogueiro sempre disse que inexistia.

O caso da quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra foi solucionado – tinha relação com o tráfico de informações que sempre existiu na Receita – e o PT não tinha nada que ver com o peixe, ainda que a mídia se recuse a admitir.

Sobre o caso Erenice, apesar de ter sido dito que o afastamento de membros do governo – inclusive da própria Erenice – provaria alguma coisa, ao mesmo tempo em que essa coalizão tucano-midiática dizia isso também dizia que a atitude correta do governo seria a de afastar os envolvidos. Só que a direita pensa que o povo é burro demais para perceber.

Se vier mais alguma bala de prata contra Dilma, portanto, terá que ser alguma coisa muito bombástica. Nas últimas semanas, aliás, surgiram diversos balões de ensaio do PSDB sobre que tipo de denúncia poderia ser feita para abalar uma decisão do eleitorado que parece cada vez mais cristalizada.

Enumeremos, pois, essas possibilidades acusatórias:

1 – Denúncia de crime, provavelmente de roubo ou de morte.

2 – Denúncia envolvendo orientação sexual e má conduta com algum parceiro

3 – Denúncia envolvendo o caráter, como um vídeo em que Dilma humilharia subalternos.

Seria muita burrice virem com apenas mais um pseudo escândalo de corrupção. A menos que tenham alguma prova irrefutável de que Dilma corrompeu ou foi corrompida. Mas será que fariam aposta em ataques desse nível sabendo que todos estão esperando por eles?

Dirão que meu conceito sobre o irrefutável é menos elástico do que o da imprensa golpista e do seu lunático candidato a presidente. Concordo. Mas Serra, de quem fatalmente será a decisão sobre a bala de prata final, parece-me um disciplinado seguidor de marqueteiros e estes já devem estar pensando em lhe dizer a verdade.

Que verdade? Essa que já disse, de que todos estão esperando pela última denúncia contra Dilma e de que ir ao pleito sem ter tentado um último golpe sujo pode ser bom para a biografia de Serra e para os votos da oposição, que a mídia já reconhece que sofrerá um duro revés na representação parlamentar.

Um governo Serra, vale dizer, seria praticamente inviável. Ele teria muita dificuldade para governar com um parlamento posto em pé-de-guerra por uma campanha eleitoral suja ao impensável. Sendo assim, declaro que o disparo de uma última bala de prata contra Dilma não está confirmado, mas tampouco está descartado.