segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Trata-se de votar no PT ou no PSDB, e no projeto político que cada um deles tem para o nosso país

Por http://mariafro.com.br/wordpress/

Falando de política…

Por Leo Carrer do blog Antitelejornal
(…)
Ontem tivemos o primeiro turno das eleições, e como era mais ou menos previsto, deu 2° turno entre Dilma e Serra. Digo que era mais ou menos previsto pois, apesar da maioria das pesquisas apontar que Dilma ganharia no primeiro turno, desde os mais recentes debates eu já imaginava que isto não se concretizaria. O principal motivo pra isso se chama Marina Silva, que conquistou grande parte do eleitorado dos dois candidatos, sedentos por fugir desta polarização Dilma/Serra, sedentos por uma nova opção. Admiro muito Marina, acho que suas idéias sobre meio-ambiente fizeram a população refletir sobre vários pontos desta questão, hábitos e atitudes que temos que mudar se quisermos preservar nosso planeta e nossa espécie. Admiro sua preocupação e concordo plenamente em bater tanto na tecla ambiental, afinal de contas, nosso planeta está mudando e todos nós já estamos sentindo os impactos de tanta degradação ambiental. É uma questão de sobrevivência.

Por outro lado, várias questões e pontos de vista me preocupam em Marina Silva. Infelizmente sua opção religiosa (evangélica) limita sua visão sobre muitas questões sociais importantes, como a liberação do aborto em casos de estupro, a união civil entre homossexuais e as pesquisas com células-tronco, além de muitas outras questões das quais, influenciados por sua visão religiosa, os chamados “crentes” tem posições extremamente retrógradas e conservadoras. Imagino a posição que um evangélico teria, por exemplo, em relação às religiões de matriz-africanas, as quais grande parte do segmento evangélico persegue todos os dias, ou sobre a educação, como poderiam influenciar nos ensinos de história e biologia, obrigando professores a eliminar discussões sobre darwinismo, por exemplo, ou implantando um ensino religioso para “catequisar” nossas crianças desde pequenas. Só de imaginar tais possibilidades já é motivo suficiente para me desesperar ante a possibilidade de termos um presidente evangélico em nosso país.

Felizmente, parece que o estado laico se salvou dessa vez. Dilma e Serra, apesar de se dizerem católicos, não tem maiores ligações com a Igreja, nem deixaram qualquer brecha para pensarmos que se deixariam influenciar por sua religião na hora de tomar as decisões. Mais do que um embate entre dois candidatos, esta disputa é um embate entre dois partidos que já fizeram história em nosso país. Não se trata, portanto, de votar simplesmente na Dilma ou no Serra. Mas sim de votar no PSDB ou no PT, de escolher qual o modelo de governo queremos para os próximos oito anos. Fazendo um rápido retrocesso, sem recorrer a dados nem qualquer pesquisa, o que marcou a história desses dois governos?

O governo FHC foi marcado pela estabilização de nossa economia através do Plano Real, uma moeda forte e sólida, que acabou com a inflação e colocou nossa economia no rumo certo. Por outro lado, FHC ficou conhecido também por implantar à risca a cartilha neoliberal em nosso país. Pra quem nunca teve aula de teoria política, a teoria neoliberal é uma herdeira direta do liberalismo, teoria econômica que pregava a não intervenção do Estado na economia, ou seja, o governo deve deixar que as próprias leis de mercado regulem a economia. Além disto, a cartilha neoliberal tem uma série de outras recomendações, como privatizações em todas as áreas. e FHC seguiu à risca esta cartilha. Vendeu várias empresas que eram do governo, nas áreas de geração de energia e telefonia, entre outras. Na área da educação, FHC investiu pouco ou nada no ensino superior no Brasil, deixando as Universidades Federais num total descaso. Ao contrário, ele incentivou a abertura de faculdades particulares, que se multiplicaram, dificultando ainda mais o acesso à educação pelas familias de baixa renda. Na área social,movimentos sociais eram criminalizados, e não havia espaço para o debate com as minorias, como o movimento negro nem de mulheres por exemplo. FHC e o PSDB fizeram um governo voltado para as elites, deixando de lado as classes baixa e até mesmo a classe média, a mesma classe média que hoje faz campanha para o Serra.

No governo Lula, a estabilidade econômica foi mantida, ao contrário de todos os prognósticos terroristas que diziam que o PT iria dar calote na dívida externa e colocar a economia do Brasil no buraco. Lula não fez nada disto, pelo contrário, solidificou ainda mais nossa economia, gerando empregos (estima-se que foram quase 9 milhões de empregos gerados por Lula, contra pouco mais de 800 mil na era FHC), aumentando nosso PIB e a taxa de crescimento do país (de pouco mais de 2% na era FHC para uma média de 3,5% ao ano). As empresas estatais, ao contrário do que acontecia no governo FHC, foram valorizadas e tiveram crescimentos consideráveis. A Petrobrás por exemplo hoje é uma das maiores e mais sólidas empresas de nosso país, tanto é que ações da petrobrás hoje são um dos melhores investimentos do mercado. Na área educacional, os avanços foram notórios. O investimento na manutenção e reforma das universidades existentes e a construção de novas universidades e centros tecnológicos. Só em Goiás foram quase 10 novos campus do CEFET construídos, espalhados pelo estado, além da construção e reforma de novos prédios da UFG, novas e modernas salas de aulas, além de um imenso Centro de Eventos.

Leis importantes foram aprovadas, como a obrigatoriedade do ensino de história da Àfrica e do negro no Brasil, na tentativa de conscientizar desde cedo nossas crianças de nossa herança africana e da importância que teve e tem o povo negro em nossa história, numa tentativa de diminuir o racismo que é tão latente em nossa sociedade. A política de cotas em universidades é outra lei importante que pretende dar mais oportunidade para pessoas negras poderem cursar uma faculdade, visando melhorar as condições de vida dessa população, em sua maior parte integrantes das classes C e D, e que por conta do racismo cruel que vigora em nosso país, tem menos oportunidade de trabalho e de subir na vida do que uma pessoa branca nas mesmas condições. Isso demonstra que as minorias foram ouvidas e tem vez no governo do PT. Continuando no campo social, medidas sociais como o programa Fome Zero foram um dos grandes pilares do governo Lula. Lula implantou e fez funcionar o maior programa social jamais realizado por aqui, que é o bolsa-família, dando à população de baixa renda a oportunidade de sair da miséria, gerando renda e consumo, mesmo que baixos, a estas famílias (clique aqui para uma análise mais detalhada do programa Bolsa-Família). Enfim, Lula e o PT governou para o povo, para as classes baixas e médias, que hoje tem mais poder de compra do que tinham há oito anos atrás.

Portanto, cabe a nós escolher qual o modelo de governo queremos para o nosso país. Não se trata de votar no Serra ou na Dilma apenas. Trata-se de votar no PT ou no PSDB, e no projeto político que cada um deles tem para o nosso país, já deixados claro em seus respectivos governos.

MARINA TRANSGÊNICA


Algumas coisas se filtram do resultado das eleições presidenciais. O único a perder foi a maioria do povo brasileiro.

Serra continuou no mesmíssimo lugar de onde não saiu desde 2002. Teve seus pouco mais de 30% de votos, que é a massa liberal da nação. O PT teve seus trinta e tantos porcento que é a histórica massa de esquerda. O restante trinta e poucos porcento dança de acordo com a música. que lhe parece mais agradável no momento.

Dessa parcela mutante, uma coisa merece ser observada. Os vinte e poucos porcento de Marina que levaram Serra ao segundo turno, foram fruto de alienação intelectual e política dos eleitores.

Não há que se falar em contrário. Não foram poucas as vezes em que ouvi "eu não gosto da Dilma". Ao que eu perguntava, "por quê, ela te fez alguma coisa?". Não fez, claro. Não gostam de Dilma porque não gostavam de Lula antigamente. É o ódio não analítico, burro. Só mudou de endereço.

Mas também sabem que seria estupidez votar em Serra. Sabem porque muitos já eram adultos no tempo em que FHC comandava o Brasil e sentiram na pele o estrago que o tão sapiente sociólogo fez a todos nós (a nós, deixe-se claro. Ele não fez mal aos amigos). Votar em Serra seia trazer tudo aquilo de volta.

Sendo assim, esse eleitor "intelectualizado", chique, discursa longamente sobre os motivos pelos quais votará em Marina. Esse cidadão vai aos restaurantes medianos e gasta seus cobres em um vinho que ele realmente não conhece, mas reputa como bom em razão de seu preço moderado (ele não poderia pagar um realmente caro, e se pudesse, seria um daqueles que orgulhosamente já teria declarado seu voto em Serra e na direita). Esse eleitor "privilegiado" foi sumariamente enganado primeiro por Serra, depois pela imprensa e por último, pela própria Marina.

Marina tinha o direito de disputar a Presidência. Não há o que dizer a respeito. Serra sabia desde o início que teria que inflá-la, como inflaram Heloisa Helena em 2006 para levar a disputa pro segundo tempo. Serra em seu íntimo, sempre soube do seu teto de votos. Seria preciso algo artificial. E a imprensa, aliada tucana de todas as horas, de propósito fazia que não via as irregularidades da campanha da "verde" e a tratava como uma alternativa a "tudo o que está aí". E olha que o Plínio avisou.

Mas os bastidores da campanha verde são bem mais sórdidos do que o eleitor comum pode supor. E nem vamos entrar no mérito de quem pagava suas zilionárias despesas, nem de quem era o avião de 50 milhões de verdinhas que ela usou pra cima e para baixo. Vamos apenas conjecturar sobre de onde vinham seus apoios políticos. Quem estava com Marina? Jesus Cristo e um monte de abnegados franciscanos que apenas se interessam em salvar o planeta ou pessoas similares àquelas que compreendem a base de apoio do PT e do PSDB?

Os incautos eleitores de Marina tinham noção de que iriam levar Serra e somente Serra para o segundo turno? E para quê, para ter agora que declarar seu voto nulo ou em Dilma?

Sim, muitos eleitores sabiam disso. Mesmo assim, insistiram. Insistiram para ter que ler nos jornais hoje e durante toda a semana que Serra vai comprar o apoio do partido de Marina. O mesmo PV que na verdade desde sempre aluga seu apoio a legendas de direita endinheiradas. Basta ver como sempre votou a bancada "verde" no Congresso e nas Assembléias Estaduais. De esquerda, os verdes não têm nem a raiz.

O PV é um partido de aluguel. Marina sabia disso quando saiu do PT e foi pra lá. Se ela tivesse fundado uma nova legenda como fez HH criando o PSOL, seria até mais aceitável. Mas Marina não tinha cacife político pra isso e além do mais, a lei de fidelidade partidária já estava valendo. Em outras palavras, não encontraria ninguém disposto a largar o mandato ou ter que sair da disputa de ontem, simplesmente para criar uma agremiação de "notáveis". Marina por algum motivo do além, caiu e se embriagou no canto da sereia. Coisa que qualquer analista sério já tinha detectado lá atrás. Mas ela prosseguiu captando votos que iriam beneficiar a mesma direita que ela tanto condena.

Será que condena apenas da boca pra fora? O tempo dirá.

E se em política "tudo é a mesma coisa", porque então sair atirando? Ora, se Marina sabia que iria para um pequeno covil de lobos, que além de tudo, era inexpressivo, porque não foi mais para a esquerda? Porque não ficou no PT e tentou se firmar mais ainda na legenda ganhando apoios internos?

Porque no mínimo, Marina é hipócrita. Igual foi hipócrita boa parte de seus eleitores. Agora, o que encontramos? Novamente uma disputa onde a direita suja usará fartamente seu arsenal de falsidades para tentar desqualificar o trabalho do Governo. Capas da Veja falando de uma corrupção, senão inverídica, pelo menos idêntica à da tucanolândia, e editoriais proferidos por jornalistas enojados e subservientes. Corremos o risco concreto de ter que regredir a economia em 10 anos se por ventura Serra ganhar as eleições.

Marina sabia disso, mas não deu bola. Seu eleitor foi vítima ele sim, de um estelionato eleitoral. Votou naquilo que não existia. Se votasse em Dilma ou mesmo em Serra, saberia o produto que estava exposto na prateleira. Votando em Marina, achou que levava alguém sério mas em verdade, estava comprando somente mais um produto trangênico em embalagem bonita.

Exatamente o contrário que a ex-seringueira dizia ser.

Como já dito em algum lugar na blogsfera, foi a segunda morte de Chico Mendes.


domingo, 3 de outubro de 2010

Vamo que vamo!

Por http://blogdoonipresente.blogspot.com/

Vamos para o segundo turno com a mesma disposição de sempre

Bem gente, não foi dessa vez. O Primeiro tempo vencemos com muita luta. Não vamos deixar nos abater por esse pequeno detalhe, um capricho: a vitória no primeiro turno. Nem Lula, o maior Presidente que esse País já teve, foi capaz de tamanha façanha. Por outro lado FHC venceu no primeiro turno e o resultado foi o que assistimos. A luta não acabou. Em 2006 também ficamos tensos e no final deu certo. Por que não haveria de dar agora?

Lembra-se que ainda podemos aplicar sobre o total de votos da Marina32.000.000 de votos, o mesmo percentual apontado pelas pesquisas no primeiro turno e o resultado real: 46% para Dilma e 32% para Serra. O percentual final de Dilma é NOSSO É NINGUÉM TIRA!

Como disse o Brizola Neto em http://www2.tijolaco.com/:

Se temos mais um passo a dar, que ele nos leve mais longe

Não faz bem a nossa luta nos auto-iludirmos ou, como se diz popularmente, “tapar o sol com a peneira”. O resultado das urnas ficou muito aquém do que todos esperávamos. Como e por que isso aconteceu, em parte, sabemos.

A ofensiva da mídia, nos últimos 20 dias, explorando ou fabricando “escândalos” sobre “escândalos”, a utilização indecorosa da fé e da religiosidade da população espalhando inverdades e desumanidades sobre Dilma Rousseff em milhares de púlpitos e, finalmente, a utilização das pesquisas e da propaganda para, a partir da insegurança gerada pelos fatores que mencionei, inflarem a candidatura Marina Silva.

De outro lado, o peso do poder econômico na reta final de campanha também contribuiu para nos tirar, a todos, aquela fatia dos indecisos, que escolhe o candidato à última hora.(...)

Abre-se, diante de nós, um momento de reflexão. Não é hora de recriminações e, menos ainda, de empurrarmos as culpas uns sobre os outros, se a nossa causa é grandiosa, grande também deve ser a nossa capacidade de superação e de compreender que o nosso desafio, no segundo turno, é tornar claro aquilo que já era claro para nós.

É preciso que todo brasileiro entenda que estamos diante da decisão entre fazer o Brasil seguir mudando ou retrocedermos ao Brasil do atraso, da estagnação, da fome, da crescente marginalização de milhões de pessoas. Ao Brasil submisso, ao Brasil humilhado, ao Brasil ajoelhado diante de interesses poderosos daqui e de fora.

Em 2006, quando Lula terminou o primeiro turno com 48,6 % dos votos válidos foi o segundo turno que conseguiu esclarecer o povo brasileiro de que aquela eleição se tratava de uma decisão entre adotar uma política nacionalista ou regressarmos ao período vergonhoso de privatização e de alienação de nossas riquezas que representou o governo tucano de FHC. Pois, agora, trata-se do mesmo desafio, só que ainda mais ampliado.

O destino, com o pré-sal, nos fez um país ainda mais rico, justamente na mesma época em que descobrimos que riqueza é algo que jamais pode andar separada da justiça social.

Eles retardaram a nossa marcha. Obrigaram-nos a mais um passo. Pois, que seja. Reunamos forças para que este passo a mais seja capaz de nos levar ainda mais longe.

Vamo que vamo!

sábado, 2 de outubro de 2010

Machado de Assis votaria em Dilma.


Enéas de Souza: por que Machado de Assis votaria em Dilma

Ora, Machado era um conservador, portanto não poderia votar em Dilma Rousseff. Mas, Machado tinha o senso da observação e da construção dos romances e dos personagens, da narrativa na História. Numa época como a de hoje, com o seu ceticismo – e não cinismo –, ele duvidaria que o PT fosse fazer um bom governo. Mas, seu ceticismo era um método para não se entusiasmar com resultados humanos.

Por Enéas de Souza, no Econobrasil

Do homem, ele tinha uma certa dúvida; achava que o que os movia era o interesse. (Brizola diria os interesses). Bom cara, este. Achava que os homens não eram confiáveis. Machado, todavia, tinha uma grande virtude; se poderia dizer que tinha uma grande aposta.

Quando pensava na Independência do Brasil, descortinava-se nele um grande júbilo. E pensava certo: se a Independência do Brasil fosse a origem de uma nação vigorosa, essa nação deveria ter uma literatura de primeiro nível, capaz de se medir com as literaturas dos países formidáveis do velho mundo. O lado colonizado era querer ser igual à Europa; o lado revolucionário era querer ter uma literatura que pudesse se bater com a dos europeus.

Pois o Machado de Capitu pensou certo. E se pôs, como um gato serpenteante, a escrever, com a sua língua plástica e simples, sobre a fisionomia do Brasil. O Brasil já tinha Joaquim Manuel de Macedo e sua A Moreninha; Manuel Antonio de Almeida trazendo Memórias de um Sargento de Milícias e José Martiniano de Alencar, a prosa mais caudalosa do Brasil. As cores brasileiras escrevendo as letras verde-amarelas. Mas, por mais que fossem gigantes, os três não tinham feito uma literatura capaz de se medir com a literatura portuguesa ou mesmo a literatura francesa ou inglesa.

Enfim, José de Alencar tinha uma linguagem como as matas nacionais, luxuriantes, verdes, altivas, indianista, genuinamente vegetal, cheio de fauna, mas também trabalhando a realidade urbana da época. Seus personagens tinham muito de europeus. Quem não leu O Guarani? (Meu pai me obrigou a ler numas férias. E para se certificar que lia, tomava o capítulo após a inesquecível e aborrecida hora de leitura). Nossa imaginação romântica viajava com Ceci e Perí.

Daí veio Machado. Primeira coisa que fez, sobretudo depois de sua doença, que o levou a voltar indisfarçavelmente maduro e mais cético ainda, foi escrever… Que é que ele escreveu mesmo? Memórias Póstumas de Brás Cubas. Corra para ler e reler; este é um livro revolucionário, audacioso, fantástico, brilhante, corajoso, pleno de ironia, zombando de alguns PSDBs da época. O próprio Brás Cubas, o seu cunhado Cotrim, Lobo Neves, Virgília, Quincas Borba, o filósofo; etc.

E se a gente vai lendo o romance, a gente percebe que o autor terça armas com os grandes escritores do mundo: Pascal, Goethe, Voltaire, e desaba a sua história num mundo onde quem comanda é Pandora, que traz sempre uma sacola de bondade e de maldades ( sendo a esperança a pior delas). O gesto de Machado é medir-se com Cervantes, com Dante, com Shakespeare, ele, um pobre do Brasil, um coitado. Mas foi o primeiro que botou para longe o “complexo de vira-lata”, que Nelson Rodrigues inventou décadas mais tarde para definir a condição do Brasil e dos brasileiros.

Então falei até agora, meio como um errante, sobre várias coisas de Machado. E o que é que isto tem a ver com a Dilma? É que a Dilma está impregnada desta loucura do Machado, a audácia. Ou seja, é preciso criar este país que a Independência deixou lá na História. Um país que, na verdade, se a gente lê o Novais, o Fernando, a gente percebe que Portugal é que estava ficando apêndice do Brasil e não o contrário.

O Brasil foi abortado por uma Independência que se alçou a ser império, vide José Bonifácio de Andrade e Silva, mas que continuou escravocrata, que deixou-se estar como um país secundário. O contrário do que queria Machado. E o contrário do que fez Machado.

Sim, porque Machado foi um gênio, um cara que estava muito adiante de sua época. Veja o que se disse dele Carlos Fuentes: “50 anos antes de Borges, Machado abriu o caminho para ele”. Ou Salmon Rushdie: “Borges é o escritor que tornou possível García Márquez; então, não é exagero dizer que Machado de Assis é o escritor que tornou Borges possível.”

O que interessa. Machado estava querendo um Brasil independente, capaz de encarar os grandes. Fez isso na Literatura. Pois, o Lula, depois de Vargas, Juscelino, entrou nesta vereda, neste sertão, neste encontro marcado. Lula mudou a cara do Brasil, com todos os problemas que o seu governo teve no primeiro mandato. O segundo, se não foi céu de brigadeiro, foi audácia. Inclusive na crise.

E Dilma e Celso Amorim, foram as duas naus que fizeram o Brasil avançar. De um lado, uma política externa excepcional e, noutro, uma sustentação econômica com uma estratégia econômica robusta. E Dilma pretende continuar a obra de Lula, o que significa “navegar é preciso” neste caminho da construção de um país integrado na economia mundial, com distribuição de renda, com ampliação dos benefícios à população, etc.

Aí é que está. Machado era conservador em face das disputas políticas estabelecidas no Brasil Império. Veja o leitor o que ele pensa ficcionalmente, dessa realidade, em Esaú e Jacó, onde dois irmãos políticos acabam por matar Flora, símbolo da política brasileira.

Hoje, ele veria que o trapézio da política se mexeu e caminhou para a construção de uma nação integrada medianamente no sistema geopolítico e geoeconômico do mundo. Deixou de ser uma nação onde o ministro das Relações Exteriores tira o sapato sob a ordem de um guarda americano, para ser uma nação que atua fortemente na América do Sul, na articulação de vários fóruns e diversas relações nas múltiplas regiões, na questão do Irã, etc.

Ou seja, há um projeto de Brasil que Lula construiu e está legando, dentro da sua ação política, para que Dilma continue. Um projeto de uma nação independente que, dentro de sua limitação econômica, política e cultural, pretende participar nas decisões do que acontece nos rebuliços do planeta.

Bem, pois acho que, apesar de conservador, irônico, com insuspeito pendor cético, Machado, se fosse votar hoje numa seção eleitoral, mesmo um pouco desacostumado com a máquina de votar, cravaria na urna eletrônica o nome de Dilma Rousseff. Lula e Dilma estão fazendo o projeto que Machado esperou que a Independência do Brasil trouxesse.

Machado votaria, votará, no domingo, com sua barba bem aparada, com os seus óculos de pincenez (a turma perguntando: quem é esse cara?), na candidata que participa de um projeto de Brasil. A mão de Machado porá na urna o voto que dará a Dilma a possibilidade de dar continuidade e destino à trajetória daquele trem que partiu da estação da Independência.

(Ao menos, é o que os brasileiros desejam!)